Autor: José Anunciação da S.F. Teólogo - E-mail: astrokolob@yahoo.com.br
Quase todo mundo acredita que fé e ciência sempre estiveram em uma constante guerra. Afinal, a história desse conflito é marcada por casos como o do filósofo Giordano Bruno, queimado vivo pela Santa Inquisição em 1600, e o do astrônomo Galileu Galilei, recolhido a prisão domiciliar até sua morte, em 1642.
Quase todo mundo acredita que fé e ciência sempre estiveram em uma constante guerra. Afinal, a história desse conflito é marcada por casos como o do filósofo Giordano Bruno, queimado vivo pela Santa Inquisição em 1600, e o do astrônomo Galileu Galilei, recolhido a prisão domiciliar até sua morte, em 1642.
A relação entre ciência e religião é extremamente complexa, varia conforme a época e o lugar. A reforma protestante, no século 16, de alguma forma foi mais uma abertura dos movimentos religiosos em relação a ciência. A Igreja Católica assumiu posturas contraditórias: por um lado, censurou teorias como o heliocentrismo ( o Sol no centro do universo ), defendida por Nicolau Copérnico e Galileu; por outro, financiou os primeiros estudos de astronomia. Galileu nunca deixou de ser católico e Copérnico era cônego, uma espécie de empregado administrativo do clero. A ciência pode comprovar Deus?
O psicólogo canadense Steven Pinker, da universidade Harvard, nos EUA, cientistas não podem acreditar em Deus. Ele é um especialista naquilo que se chama de psicologia evolutiva, ele enxerga na Teoria da Evolução motivos de sobra para descartar a possibilidade de Deus. ¨ A seleção natural explica a vida em todas as suas peculiaridades.¨ O biólogo britânico Richard Dawkins concorda. Autor do livro Deus, um delírio (Companhia das letras), ele não se cansa de destacar que a teoria de Darwin está 100% comprovada, é inquestionável e fornece explicação para cada passo dado pela vida na Terra ao longo de muitos e muitos anos, desde as suas formas mais rudimentares até as mais sofisticadas e improváveis, como o cérebro humano. Não podemos presumir que Deus tenha feito alguma coisa só porque ela é complexa demais ou improvável¨, diz Dawkins. ¨Se foi Deus quem nos criou, estranho que tenha esperado 10 bilhões de anos até que a vida começasse a surgir e outros 4 bilhões para que fossemos capazes de cultivá-la. ¨ Há cientistas, porém, que não enxergam contradição alguma entre Deus e evolucionismo , nem entre milagre e comprovação científica. É o caso do médico e geneticista americano Francis Collins, ex-coordenador do Projeto Genoma. O homem que mapeou nosso DNA acredita que Deus não pertence ao mundo natural, está fora dele, e teria ativado o mecanismo de evolução das espécies no momento da criação. ¨O Deus da Bíblia é o mesmo do Genoma. Pode ser adorado tanto numa catedral quanto num laboratório. ¨ Muitas teorias surgiram e deram dor de cabeça a religiosidade dominante, mas nenhuma recebeu tanta crítica como a teoria de Darwin. A teoria da evolução acabou de vez com a idéia de que a vida foi criada por intervenção divina. Como a fé em Deus foi capaz de sobreviver? No princípio Deus ¨não¨ criou o homem e a mulher, ou, pelo menos não literalmente. Desde que foi formulada, em 1859, quando o naturalista britânico Charles Robert Darwin publicou A Origem das Espécies, a Teoria da Evolução jogou por terra a tese de que a vida precisou de intervenção divina para existir. A ¨perigosa idéia de Darwin, como a apelidou o filósofo americano Daniel Dennett, também pôs em dúvida outro conceito importante para muitas religiões: o suposto status especial do homem perante os demais seres vivos. A maioria dos biólogos evolutivos, aqueles que estudam a origem e a evolução dos seres vivos, afirma que somos apenas mais uma espécie animal, com uma diferença decisiva em relação as outras: tivemos a sorte de desenvolver nossa capacidade mental, característica que fez do homem o mamífero de grande porte mais numeroso e bem-sucedido da Terra. Dá para conciliar esse fato com a afirmação de que fomos criados ¨A imagem e semelhança¨ de um Deus? As respostas para essa pergunta complicadíssima variaram um bocado ao longo dos últimos 150 anos. Algumas igrejas cristãs mais antigas, como a Igreja Católica Romana e a Igreja Anglicana, acabaram decidindo que não dava para brigar com as descobertas feitas pela biologia evolutiva e passaram a interpretar os relatos da Bíblia sobre a criação do mundo como textos poéticos e alegóricos. Mas outros grupos, como as denominações evangélicas surgidas do século 19 em diante, insistiram na verdade literal das escrituras Sagradas. Considerando-as fontes confiáveis não só para temas espirituais mas também científicos. Estava aberta, portanto, a rota de colisão entre Igreja e Ciência?
A preocupação dos que queriam negar a teoria evolutiva da Darwin tinha a ver, pelo menos em parte, com a questão da autoridade da Bíblia; para eles, qualquer dúvida sobre a exatidão dos textos sagrados abriria brechas para questionamentos de todos os tipos. Muito mais complicado que isso, no entando, era conciliar a evolução com alguns aspectos essenciais da teologia cristã tradicional. O mais importante deles envolve o conceito de pecado original. ¨Não vejo razão para que as opiniões expostas neste volume choquem os sentimentos religiosos de qualquer pessoa¨ (Sexta edição de A origem das espécies, livro de Darwin onde é exposto a biologia evolutiva) O naturalista britânico tinha uma visão bem mais moderada da religião do que a defendida por alguns de seus seguidores modernos. Ele deixou de acreditar em Deus, mas não via motivo para que sua teoria fosse usada como arma contra a fé. A posição religiosa de Darwin na maturidade era o agnosticismo, ou seja, se considerava inacapaz de afirmar se Deus existia ou não.
O movimento criacionista (dos que acreditam na criação divina) surgiu no começo do século 20, nos EUA, como forma de combater o evolucionismo. Ele se divide em dois grupos: os defensores do Criacionismo da Terra Jovem e os que seguem o Criacionismo da Terra Antiga. Os primeiros acreditam que nosso planeta tem apenas alguns milhares de ano de idade e que o Universo foi criado em 7 dias por Deus. Para eles, erros de interpretação levaram os cientistas a acreditar que o cosmos tem bilhões de anos. Já os da Terra Antiga, como o próprio nome indica, aceitam as datas propostas pelos pesquisadores seculares, mas negam o processo evolutivo. Vale a pena acreditar em Deus ou não? E como fica a fé? Acreditar em Deus tem um fator positivo, funciona como um conforto diante da inevitabilidade da morte.. Também emprestaria propósito à existência, pois nossa ¨passagem¨ pela Terra seria apenas uma das etapas a ser cumprida. Precisamos construir algo ao nosso redor que nos dê segurança¨, afirma o teólogo Jorge Claúdio Ribeiro, também professor da PUC de São Paulo. ¨Queremos entender e dar sentido a tudo que nos cerca. E a crença em Deus atende a essa necessidade elementar..¨Com o avanço experimentado por todas as áreas do conhecimento nos últimos 150 anos, a fé teve de se adaptar. Mas não deu qualquer sinal de fragilidade.Hamer, Denner e Dawkins concordam em pelo menos um ponto: a fé é uma característica humana, que provavelmente vai nos acompanhar até os fins dos tempos. Todo antropólogo, quando quer descobrir quão complexa é deterninada sociedade, dedica-se logo a estudar a religiosidade daquele grupo. A crença em alguma força ou ser superior, para a antropologia, é sinal de civilização.